terça-feira, 26 de maio de 2009

Sobre ser ou não ser - gauche na vida.

"Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida."

Desde pequena, sempre gostei muito de sonhar. O sonho me fazia bem, a dança, a música, o teatro, a poesia (e a prosa), a vontade de descobrir, de perguntar. "Tudo era matéria às curiosidades de Capitu" - mas a minha Capitu pouco perguntava e muito falava. Minha Capitu era daquelas que gostavam de esquecer da vida vendo a vida passar, vendo a estrada passar, vendo a chuva passar. Minha Capitu era curiosa. Minha Capitu queria descobrir e jamais ser descoberta. Até que um dia minha Capitu se descobriu.

Não foi preciso nenhum anjo torto dizer para ela ser gauche na vida. Talvez a vida tenha se encarregado de dar a ela esta notícia, talvez as barbies que viviam espalhadas pela casa a tenham avisado. Mas um dia, a menina pegou o globo terrestre e começou a "internetar" com aquela bola de madeira pintada. E ela se divertia tanto! Conversou com gente de todos os cantos do mundo. E é claro que ela conversou - como se explica tamanha sinceridade na brincadeira de uma criança de poucos anos?

A pequena gauche lia livros que ninguém lia, ouvia músicas que ninguém ouvia, usava roupas que ninguém vestia (talvez ninguém fizesse nada disso por excesso de realidade e vergonha na cara). A gauche fazia planos que ninguém fazia. Ela queria tudo o que ninguém imaginava...

Capitu ainda quer descobrir o mundo. Quaisquer que forem os meios, ela ainda quer. Não importa o que digam (afinal, tudo o que já tinha de ser dito de relevante, já foi dito e relevado por muitas vezes, embora ela ainda - infelizmente - ouça muita besteira que ainda falam por aí).

Nada tira da cabeça dela o sonho de descobrir o que tem do outro lado do oceano, a perder de vista. Ela sonha em ver como é o céu nesses lugares (é o mesmo no mundo inteiro, mas como muda!). Gostaria também de saber como esse pessoal come e que se come. Porque acho que ver comendo é o melhor jeito de descobrir a identidade de um povo.

Queria sair por aí, dormindo em lugares desconhecidos, com pessoas desconhecidas, falando idiomas desconhecidos sobre coisas desconhecidas. Queria viajar por aí, vendo tudo como se fosse a única vez que eu fosse ver na vida, enfim, queria viver um dia de uma vez, uma coisa de cada vez, uma sensação de cada vez...

Aliás, "eu não devia te dizer/ mas essa lua/ mas esse conhaque/ botam a gente comovido como o diabo!"

5 comentários:

  1. Seus textos são fantásticos.
    Passarei sempre aqui.

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  2. Adorei, aloka.
    Você escreve muito bem =*

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  3. Falar de sí mesmo, de nossas vontades e pretensões, nunca é facil. Mas vc o fez agora de maneira apreciável. Você é boa com as palavras, e esse é um atributo que muito admiro em uma pessoa.
    Escreva sempre ;)
    beijo querida

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  4. Brilhante, brilhante. "Drummondiano". Me ganhou com dois parágrafos. Vou ler essa coisa sempre \o

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