segunda-feira, 15 de junho de 2009

Täglich

Um quarto. Uma cama, um espelho, uma estante. Algumas pelúcias, muitos livros, certos papéis. Uma garota. Uma mente. Um corpo. Um cérebro, uma coluna vertebral, alguns músculos que doem. Muito. Milhões de sinapses. Pensamentos.

Uma janela. Aguns adesivos de jeans, uma cortina e uma vista. Duas árvores. Mil estrelas. Movimentos cósmicos. Átomos de hidrogênio. E de hélio. Reações químicas. Alguns planetas, outro tanto de luas, um sol vagando por aí. Um par de olhos. Curiosos e observadores. Movimentos sutis.

Uma televisão. Ligada. Um programa sensacionalista e emburrecedor. O tédio. O tédio. O tédio. Uma idéia. Um disco de vinil. Uma música. Uma cama. Um par de olhos. Fechados.
Mais sinapses. Mais pensamentos. Mais lembranças. Mais sensações. Dois ou três nós na garganta. Um chiado. Uma agulha. Fim do disco.

Cores. Formas. Um vazio. Um par de olhos muito bem fechados. O mesmo par de olhos. Muito abertos. Imagens P&B. Um lugar estranho. Construções inacabadas. O meio da tarde. Pássaros. Areia. Terra. Muros. Buracos grandes de janelas. Vestes no estilo do começo do século. O passado, é claro. Passos. Largos, curtos, errantes, certeiros. Círculos. Oscilantes. Espiralados...

Cores. Formas. Um vazio. Um par de olhos muito bem abertos. O mesmo par de olhos. Muito fechados. Imagens coloridas. Sensação de estar num lugar conhecido.

"A história só se repete como farsa"
Karl Marx

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Quant le nostalgie...

"Mudaram as estações, nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Está tudo assim tão diferente...
Se lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre, sem saber
Que o pra sempre sempre acaba...
Mas nada vai conseguir mudar o que ficou
(...)
Mesmo com tantos motivos
Pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa..."

Ah, e esse poder que têm as fotos, os cheiros, as músicas, os gostos, os gestos, todo esse enormíssimo poder que eles têm de nos transportar rapidamente pra alguma espécie de universo paralelo chamado passado?

É incrível como só conseguimos sentir os efeitos de nossas decisões a longo prazo, não é mesmo? Sempre que tomamos alguma atitude, somos os mais machões em dizer que em nada mudará nossa vida. Só quando nos deparamos com alguma situação em que desejaríamos ser abraçados pelos "duendes" do passado é que nos damos conta o quão fomos frios, e que agora, tudo está perdido.

Os duendes podem até voltar algum dia... mas a época, ah!, a época, a melhor e mais linda época, vai ficar guardado em algum lugarzinho do passado, bem longe, bem distante, naquele lugar deserto e crepuscular que parece que deixa de existir num passe de mágica, e num piscar de olhos volta juntamente com todos os seus demônios... e é bem nesta hora que você, fragilizado, põe-se a se lembrar de todos os detalhes daquilo que já passou.

E dói tanto! Pois você sabe que o único motivo pelo qual você se lembra disso tudo hoje com tamanha saudade são as decisões que você toma.
(É claro que as coisas seguem seu curso natural e tudo tem uma razão de ser, mas... quem é que se lembra disso?)
Enquanto isso, no lustre do castelo...

Feliz dia dos namorados à todos aqueles que estão compromissados hoje. Tenham a fineza de passar bem longe de mim com seus fofinhos, tchutchuquinhos, cuticutinhos e nenenzinhos, porque eu nem sei mais quantos dias dos namorados eu passei solteira! Mato mesmo ;)

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Para falar da morte de alguém que amo.

"Vês? Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!"

Versos Íntimos - Augusto dos Anjos

Postei mesmo pra simbolizar a morte repentina de alguém que amo muito. Alguém que criei, perdi noites de sono e dias a me dedicar, alguém que mudou a mim mesma para depois partir sem motivo aparente. Alguém que amava como amiga, como filha, como mãe. Alguém que me deve sua vida, e ao mesmo tempo devo minha vida a ela.

Não estou falando sobre alguém de carne e osso. Trata-se de um valioso - imensuravelmente valioso - pedaço de papel.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Sonho de uma tarde de verão.

"Talvez seja verdade que duendes existam, que fadas estão por aí, que fiandeiras teçam nosso destino aos pés de uma árvore. Faz-me bem esta crença. Faz-me bem cheiro de terra com lenha. Faz-me bem tardes chuvosas com músicas nostálgicas. Faz-me bem o ato de mexer no cabelo dos outros. E faz-me bem mexerem no meu cabelo.

Passei a definir a minha verdade. Definitivamente, não quero seguir nessa estrada com um peso morto em minhas costas. Não quero segurar uma pedra onde minha opinião foi gravada a ferro por terceiros. Pretendo escrevê-la a lápis num bloco de notas barato, para que ela possa estar sempre aberta a mudanças. Lapidá-la-ei com o tempo, com a mesma calma que um joalheiro lapida um delicado diamante. Só quero que no final ela valha todo o meu esforço. Valha cada passo dado, cada centímetro desta jornada.

Mas enquanto eu estiver caminhando, vou me demorar todo o tempo que for possível. Vou sentar em todas as copas de árvores grandes e confortáveis onde eu souber que existam serezinhos mágicos. Vou olhar em cada espelho que souber que poderá aumentar minha neurose quanto a cabelos, espinhas, sobrancelhas. Vou parar em cada esquina onde tocar um som vibrante de rock'n'roll e eu souber que lá posso encontrar pessoas rindo e batendo os cabelos. Vou me afastar da minha personalidade para ser dominada por alguma outra bem mais interessante em cima de um palco, e pretendo me demorar o maior tempo possível por lá. Explorarei os cantos mais sujos desta nova personalidade, procurando nela alguma explicação para a minha própria. Vou sentar em algum lugar macio [às vezes, nem tão macio assim], fechar os olhos e viajar para outros mundos na primeira nota de flauta que me vier à mente. Pretendo me sentar numa pedra e contemplar o pôr-do-sol em todos os dias que chovam bastante, esses mesmos que deixam o final da tarde com um lindo brilho rosa e laranja. Quero parar em algum lugar e ler romances folhetinescos à luz de vela. Outras vezes, não precisam ser tão folhetinescos e nem tão precariamente iluminados assim.

De uma coisa eu tenho certeza, mesmo que seja a filosofia mais barata do mundo: este segundo não volta, e não tenho chance de consertá-lo a menos que eu faça o próximo valer dez vezes mais a pena. Portanto, é só isso que quero a partir de hoje: fazer valer a pena. Não importa como, quando, onde e nem por que. O que importa é que tudo deve valer a pena. "

Parido por mim, em algum dia frio de dezembro de 2008.