sexta-feira, 5 de junho de 2009

Para falar da morte de alguém que amo.

"Vês? Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!"

Versos Íntimos - Augusto dos Anjos

Postei mesmo pra simbolizar a morte repentina de alguém que amo muito. Alguém que criei, perdi noites de sono e dias a me dedicar, alguém que mudou a mim mesma para depois partir sem motivo aparente. Alguém que amava como amiga, como filha, como mãe. Alguém que me deve sua vida, e ao mesmo tempo devo minha vida a ela.

Não estou falando sobre alguém de carne e osso. Trata-se de um valioso - imensuravelmente valioso - pedaço de papel.

2 comentários:

  1. "Não precisa correr tanto, o que é seu às mãos lhe há de vir."
    de Assis, Machado

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  2. Palavras carregadas de sentimentos...
    [Um minuto de silêncio]

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