domingo, 1 de novembro de 2009

Sinestesia da anestesia.

Há algum tempo atrás, no alto dos meus sapientíssimos catorze anos recém-completados, escrevi um texto. Pequenininho, bonitinho, sem nada além de alguns travessões e pontos. Literalmente. Chamei-o de Sinestesia: o que os olhos não ouvem, o coração escreve. O texto, utilizando-se apenas pontuação, descrevia situações comuns: pelo menos pra mim, refletia o que eu estava sentindo no momento. Era só pontuação. A história, os personagens, os lugares, quem fazia era você. Era como eu dizia a um amigo: a palavra escrita tem o sabor daquilo que queremos provar através dela. Ou seja: uma palavra e milhões de significados.

Pra ser sincera, não faço a mínima idéia do porquê de eu estar escrevendo isso. É, de fato, não sei. Talvez seja porque eu ando etérea demais ultimamente. É ele, ele de novo. Ele sempre. Por favor, senhor "homi da unicamp e da fuvest lá", me dá um tempo, vai. Tem tanta coisa mudando, eu estou mudando, o mundo tá mudando, meu pé crescendo, meu cabelo desbotando, meus amigos indo e ficando e voltando e dando voltas e mais voltas, minhas unhas coitadas sendo cruel e terrivelmente roídas por um nervosismo arraigado, meu namorado, meus pais, meu cachorro, tudo tudo tudo girando e rodopiando e caleidoscopicando a ponto de me enlouquecer e você aí, achando que é a única pessoa digna de atenção que existe na face da terra. Me poupe da sordidez de sua existência, senhor homi.

Já faz tempo que não consigo conviver com um duende sossegada, já faz tempo que não perco meu tempo na frente do computador, faz tempo que eu não dou uma hidratada no meu cabelo (que também preciso pintar e cortar), já faz tempo que eu não saio no meio da tarde pra ficar fazendo absolutamente nada em lugar nenhum, séculos e séculos que eu não sei o que é ler um livro até o fim (estou lendo três ao mesmo tempo! E o pior: os três que eu estou lendo merecem atenção individual e triplicada. Acho que vou tirar no palitinho.), enfim, se alguém aí ainda souber o que significa viver ou qualquer outro sinônimo pra isso, por favor, me chama.

É como dizia Vinícius: é melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe, é assim uma luz no coração... mas Vinícius, não lembro mais o que é isso. Vou ver a minha sinestesia de novo. Quem sabe não tem alguma coisinha pequenininha escondida por lá.